sexta-feira, 1 de maio de 2015

02.05.2015

Uma boneca que chora vem para o meu colo. Perdeu as pernas, a boneca. Quer minha alma. Some. Eu esperei você escorrer de mim até a última gota. Você é um boneco de cera. Você é indizível, monstruoso. Você afunda no tocar dos dedos. Eu, a carregar uma boneca paralítica que chora, invertendo as portas da casa abandonada, entrando em todo e cada lugar errado, acabo sempre no banheiro, perto da sujeira. Você um monstro desligado. Coloco a mão na boca da boneca. Pare de gritar, pare de chorar, ele vai ouvir. Ela não para porque não é a boca dela. Eu choro porque não é a boca dela, mas a minha. O homem feito de cera anda até o banheiro. Desligado, escorrega a mão na fechadura, três vezes. Eu coloco a boca no buraco da fechadura. Abro o máximo da garganta, o meu choro afunda o boneco. Ele derrete. Eu esvazio.