segunda-feira, 7 de setembro de 2015

07,09,2015

Sequestro lápides de cemitério: sou cheia de fantasmas. Uso o reflexo para envermelhar a boca: avisar que dali vem o sangue, a palavra que corta, ou a palavra cortada que sangra, ou o sangue que é a palavra. Uso a boca pra mostrar que o fantasma também sofre, depois de morto, depois do sono envermelhado na boca, e te sugo até a última gota, atalho ereto até a solidão, tu desfaz os sonhos, descostura, derruba inconscientes e arquiteturas, estou vazia até os ossos que desmancharam na cova, não vou reerguer tutanos com o forte do verão desidratando pós-de-esqueleto, nem vou engordar nos lábios, inchar: o vermelho do deserto é opaco: as lápides refletem os erros que nos levaram pra morte, minha boca: sempre a minha boca: o sangue ou a palavra ou o tutano dos meus ossos desmanchados: ou o poema embaixo do sol no deserto, minha boca refletida no teu coração desidratado: vermelho opaco: sangrando até a última gota.