segunda-feira, 7 de setembro de 2015

07.09.2015

Não vou dizer nada, farei poemas cujas palavras se empilhem como mortos na guerra e os corpos já não significam nada individualmente, apenas números engordando a tragédia: minha boca mais cansada que prisioneiro em cárcere há décadas: a barba por fazer, a mesma camisa, os botões ninguém mais lembra de contar quantos são, estão faltando vários. Ninguém mais chora o crime, o tempo estica a desgraça até que ela desapareça dos olhos. O sol agride o olho: o cativeiro iluminado: as montanhas de palavras desperdiçadas na vala. Não vou dizer nada: ainda que o fuzil esteja mirando minha boca, a língua é estrangeira de todo modo, minha própria língua.