Estou parada à porta de um pesadelo.
Um olho na maçaneta se fere de fumaça.
Nos meus pulmões existem resquícios
de poemas e também de despedidas
talvez punhado de areia.
Estou parada, os dedos na fogueira
derretendo unhas e também sensação
de que sou uma mulher.
Um lugar de onde se jogar.
Um lugar para o qual se jogar.
Tudo o que abraça a queda.
A luz invade os bueiros da avenida
as ruas estão despidas de passado
a tua cama está repleta de remédios
Estou parada em frente uma casa abandonada,
a noite chora baixo e ninguém escuta.
Eu respiro mais baixo que a noite,
o coração lá do outro lado da porta,
pintando palavras melancólicas nas
paredes, o cheiro da tinta escapando
pelos vãos das janelas, como se fossem
um choro se dissipando na lonjura da noite.