A escuridão penetra silenciosa e
violenta pelas fissuras dos ossos,
carrega segredos de melancolia
que se espalham na correnteza
do sangue.
O gesto e a fala são restos de
acidentes.
O silêncio costura a pele quando
a palavra se vestiu de
lâmina e dúvida e também de
recusa.
Os vidros do inconsciente trincam mas nunca se partem.
Durante o sono estes vidros desmancham
como flores numa interminável chuva.
Encharcam suas raízes, levam
a água pelos caules, buscando encontrar o
afogamento iminente, murcham sozinhas.
O outono leva a folha da árvore e planta o
desengano nos pátios das casas sem dono.
Uma única luz invade o quarto pelas frestas
Sempre há frestas esquecidas abertas, sempre há
persianas quebradas num apartamento da infância.
A luz é rancorosa e prateada, e
serve como ponto de apoio para
a loucura.
Quando a lua invade o quarto, na madrugada,
sem te desejar uma boa noite, ela te encontra
vomitando delírios pelo chão, sem que ninguém
te erga os cabelos.